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devassidão coisa e tal_bundaybreja

Se tem uma breja que eu tomei na Baea foi Heineken. Quase tanto, ou talvez realmente tanto quanto, teve a Devassa, que é a lager mainstream da mesma fábrica. Em terras soteropolitanas, a garrafa custa de 8 biroliros pra menos, e apesar de ser a minha top 2 provavelmente é a top 1 de lá. A marca fez um ~reposicionamento~ há alguns anos atrás e descontinuou sua versão “bem loura”, colocando no mercado essa que agora tem se vendido como “puro malte tropical”: uma receita brazo-tropical de puro malte menos amarga, mais leve etc. As praias de Salvador abraçaram, quem sou eu pra dizer o contrário.

Eu também curti muito essa foto, acho que ela tem uma vibe campanha de verão daqueles poster que fica em boteco copo sujo, cês num acha?

A Devassa inclusive já rendeu vários pôsteres e propagandas, digamos, importantes para a cultura geral de “sexualidade de tv”. Cês lembram de uma das primeiras propagandas, que já começou censurada, há dez anos atrás, em que a Paris Hilton era voyeurizada por Copacabana? Nessa época a cerveja era outra, esses, tempos de “bem loura”. Inclusive, nesses mesmos tempos eles pintaram o cabelo e botaram pra rebolar uma nada-sexy Sandy Junior. Pela propaganda valeu o buxixo mas Sandy, que não bebe, não me convence com sua raba.

E tudo bem.

Já faz um tempo que a propaganda de cerveja trata mais de *qual* comprar do que *porque comprar* cerveja. Isso tem a ver com a sociedade de consumo e “compensação” do trabalho [numa sociedade que é do trabalho mas precisa criar formas de compensar o trabalho]. Nessa luta desesperada, rs, por consumidores o apelo é feito como é feito e salve-se-quem-puder. Até muito recentemente, ganhava na campanha de cerveja quem colocasse a maior gostosa com roupas mais provocantes em uma posição mais sexualizada. Eu mesma já falei mal de Devassa em post anterior desse blog.

Vira-e-mexe a propaganda de cerveja é habitada por uma ou um time de gostosas que, felizmente cada dia com mais personalidade, sugerem aspectos sexuais. Desde o auge da cultura de massa até hoje de manhã as mulheres aparecem a full em propagandas de cerveja, mas como satisfação de uma necessidade ou interesse do verdadeiro consumidor, o homem. Nesse sentido, objetos do desejo deles etc.

A sexualidade apresentada nas propagandas de cerveja talequal na pornografia [Naomi Wolf y outres defendem, por exemplo, que toda propaganda tem sua pornografia baseada na exploração da beleza feminina] é unívoca de submissão feminina. Assim, esses ideais reproduzidos todo dia o tempo todo não se restringem *apenas* ao corpo, mas também à performance sexual esperada dos sexos. Quando a virginal [e então loira] Sandy fez o constrangedor comercial da Devassa, ela falava “afinal, toda mulher tem seu lado devassa”.

Nesse sentido, contrário ao discurso liberal da representatividade, o que existe é mais uma profusão que uma ausência, e é justamente essa profusão que atua na construção da sexualidade coletiva comum, uma sexualidade de tv, qual seja: a educação pornográfica em que mulheres são seres passivos sexuais e os homens predadores movidos pelo desejo constante. Nessa relação de consumo, as mulheres são apenas seus atributos sexuais, por exemplo as louras como ideal de beleza, as morenas/negras como animais mais sexualizados. As mulheres são sua performance de gênero, não um grupo heterogêneo dotado de diversidade etc.

A fixação do homem como consumidor – tendência que a representatividade vem lentamente alterando – firma a cerveja como sinônimo de espaços coletivos/públicos e de gozo como espaços masculinos. Apesar da gradual inserção de mulheres como consumidoras, a maioria absoluta associa “o direito de tomar cerveja” ao “mérito” feminino e à “igualdade” entre os gêneros. Ou seja, valores de liberdade dentro do capitalismo fofinho.

Não acredito em hackear o sistema mas, como resistência de trincheira, a Siririca (por isso o nome) nasceu anos atrás para causar ruído inserindo conteúdo “subversivo” em meios de mensagem nocivos. Vamos ver onde o caminho leva.

Sexy_bundaebreja

Sexy é uma palavra usada a partir do século XIII, fruto da junção de Sex e o sufixo Y, que por sua vez significa “cheio de”. Sexy seria, portanto, algo ou alguém cheio de sexo. Mas o que é sexo?

De origem incerta, a palavra mudou – e muda – de significado desde seu aparecimento, entre os séculos XIV e XVI. Como sinônimo de gênero, seu primeiro uso data de cerca de 1500, mas seria usada como intercurso sexual apenas três séculos depois. Como sinônimo de genitália, foi já na nossa contemporaneidade, apenas em 1938 (e, espera-se, esteja esse cada vez mais caindo em desuso).

Erótico, adjetivo às vezes usado como sinônimo, deriva do grego, e claramente se associa ao deus Eros, ou Cupido, o deus do amor romântico. O sufixo ika significa algo como “relacionado com”, ou seja, “algo a ver com Eros”. Em verdade, ao contrário do que muitas vezes reproduzimos por aí, não é o deus que empresta nome à paixão e desejo amoroso, e sim tais sentimentos que inspiraram os gregos a representá-los através de um deus.

Por fim, pornográfico também advém do grego, palavra criada a partir de porné – prostituta; e grapphen – escrita/escritor. Pornografia, linguagem e material consumido à exaustão nos dias de hoje, seria então a narrativa de um terceiro sobre as peripécias sexuais de uma pessoa que vende seus serviços eróticos/sexuais (na Grécia que cunhou porné, havia homens e mulheres trabalhadores sexuais).

A etimologia nos ajuda a rastrear os primeiros usos das palavras e, portanto, a sociedade que necessitava tais conceitos para se expressar, apresentando assim os contextos históricos em que se estabeleceram determinadas práticas. Os usos contemporâneos das mesmas palavras nem sempre se assemelham aos originais mas, como todo objeto histórico, guardam tributos a suas origens, é aqui é isso que interessa.


Apesar da longa História desses termos – apenas alguns que ilustram a longeva presença da sacanagem, putaria e gosto pelos prazeres carnais na vida humana – ainda hoje, em pleno mil novecentos e dois mil e vinte e um, muitas pessoas insistem em campanhas contra a pornografia e o erotismo e/ou insistem em quão desimportante é o assunto frente a outras demandas políticas como o fim do patriarcado, do capitalismo e da opressão. Mais que isso, muitas vozes insistem que uma mulher tomar papel ativo na difusão e produção de material desse tipo seria servir ao inimigo transformando a liberação sexual em mais um instrumental utilizado para subjugar as mulheres.

Acontece que a relação entre sexo – em seus amplos significados -, poder e produção de valor antecede nossa sociedade capitalista e mesmo ajudou a estabelecer o patriarcado como um regime sexual dominante no ocidente.

Voltando à etimologia, puta, por exemplo, é uma palavra que existe em praticamente todas as línguas românicas e além, por exemplo na Alemanha. Puta, de significado semelhante a prostituta em todas essas línguas, primeiro serviu como denominador de mulheres e apenas mais tarde passou a ser usado como sinônimo de mulher que vende serviços sexuais. Nos primeiros séculos depois de cristo, putta significava (também) “mulher da rua”. Quer dizer: assim como hoje, interessa menos seu ofício para qualificar-se como puta e mais a ocupação de espaços e condutas desaconselhadas.

O papel ocupado pela mulher na produção de valor sexual tem sido progressivamente anulado ou alienado de si na mesma medida em que cresce a hegemonia masculina e capitalista. Em Grécia e Roma, berços da cultura ocidental em seus valores e língua, os corpos (e seu culto) que ocupavam a democracia e espaço público eram masculinos, atingindo seu ápice de civilidade, por exemplo, em Olimpíadas disputadas sem roupas. As mulheres (não só as de Atenas) se manifestavam em outros espaços, noturnos e escuros, excepcionais em alguns momentos do ano ou ocupando a função ao mesmo tempo excludente e restituidora designada pelos trabalhos sexuais.

Saltando no tempo, em nossa sociedade capitalista o sexo segue motor de uma indústria que movimenta anualmente centenas de bilhões de dólares ao redor do mundo. Apesar da pornografia como linguagem e produto estar disponível e ser produzida a partir de variados gostos, expressões de sexualidade e desejo, as mulheres são a maioria das trabalhadoras que tem sua imagem e performance explorada, enquanto homens são maioria entre o público consumidor. A matemática, assim, é clara: as mulheres são o produto e produtor, os homens o público pagante (na sociedade de consumo, pagantes são os que logram acessos a direitos) 1. Nesse sistema capitalista de produção de valor sexual configurado pela indústria pornô, as mulheres são ao mesmo tempo a força de trabalho, a matéria prima e parte do meio de produção. Se os trabalhadores em geral são alienados de sua produção, as mulheres na indústria pornográfica são triplamente exploradas, e definem balizas de valor inclusive para mulheres teoricamente fora desse mercado (se apenas algumas mulheres vendem seu trabalho sexual, todas são valoradas a partir do mercado sexual e economias do desejo).

Justamente por essa apreciação crítica que o caminho desse texto não é condenar a pornografia, se não manifestar repúdio à indústria e reprodução de valor sexual no capitalismo. A reclamação feminina – e de outrxs dissidentes sexuais – dos usos e valores de sua sexualidade parecem mais servir a uma liberação que a um encerramento. Assim como outros movimentos sob o sol do capitalismo, a apropriação é uma realidade, assim como a fagocitose; porém, ao mesmo tempo a reflexão pode passar de terceiros a primeira pessoa, subjetificando as experiências e análises e contribuindo para visões tão esclarecidas quanto libertárias, ou passionais em uma epistemologia onde as paixões e desejos valem tanto quanto a racionalidade ou “cabeça fria”.

Como já anunciado na zine Siririca, é possível apreciar (critica e apaixonadamente) a economia sexual e a pornografia recusando a moral que se propõe hegemônica e tirando dos prazeres da carne (os únicos acessíveis a qualquer corpo em qualquer realidade econômica) reflexões que nos levem a outra produção de sexualidades e sociedades (mundos onde caibam vários mundos).

Por isso a Siririca vem gozar em novos prados, ocupando espaço público com tudo que “mulher direita” não faz: sexo, álcool e baixo calão: instagram.com/bundaebreja

PS: só pra não perder a deixa, e agraciando quem chegou até aqui, aviso aos amantes do sexo fofinho que fuck provavelmente vem do alemão “foken”, que significa bater. Já foda, vem do latim futuere, que significa dar com força. É isso, adeus.

Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa – Lexicon

https://www.cnrtl.fr/etymologie

https://www.pornhub.com/insights/2019-year-in-review#gender

 

Deu Match! Amor em tempos de Tinder

Pode parecer pitoresco falar de Tinder, com tantos problemas mais sérios pra resolver, ou mesmo estar aqui transformando em assunto um não-assunto. Esse artigo tem como objetivo, justamente, apresentar os aplicativos de pegação como um assunto, e tenta situá-los no campo de questões sociais dignas de [um pouquinho] mais de atenção.

Isso se dá, em primeiríssimo lugar, porque nada no mundo existe apartado da natureza, no nosso caso, ela tem sido capitalista, sexista, racista, economicista, e opressora. Isso significa que se preocupar com o Tinder, o OkCupid e outros aplicativos que prometem o par perfeito é preocupar-se também com questões econômicas, sociais, tecnológicas, de gênero, sexualidade e relações humanas, e todas suas intersecções, apenas para citar temas que concernem a este texto. Aplicativos de pegação têm muito a ver com exploração da força de trabalho, mais-valia, consumismo e aceitação sexual. Aqui várias questões serão pontuadas, nenhuma esgotada. O objetivo não é elucidar um assunto, mas antes, torná-lo visível.

As questões acerca das relações afetivo-sexuais são sistematicamente* interditas no discurso político. A despeito dos avanços conquistados pelas diversas ondas feministas, (além de iniciativas queer e GBTA), especialmente em relação ao pessoal ser político e o corpo como espaço de luta, as relações afetivo-sexuais são comumente tratadas como questões pessoais e privadas. Aparte a dimensão de intimidade destas relações, resguardada em maior ou menor grau em relação aos acordos envolvidos, estas associações têm amplo espectro público e coletivo, e negar ou escamotear sua importância é justamente reforça-los como espaços de poder. Por serem espaços de poder cercados de tabu e regras específicas, esses temas são fundamentais para, por exemplo, discutir um outro mundo possível.

Dito isto, vamos aos fatos:

Assim como dois ou mais adultos se pegarem é uma prática profundamente enraizada na cultura humana, o “meu amigo quer te conhecer” tampouco é novo. Tanto o intermédio de uma pessoa é prática antiga quanto a seleção e apresentação de possíveis candidates também existe há séculos, milênios quiçá. Da mesma forma, o uso de troca de mensagens como forma de aproximação e mesmo manutenção de relações (afetivas e sexuais) poderia, provavelmente, com um pouco de pesquisa, ser datado da época das cavernas, ou, no mínimo, na troca de correspondências e tantos romances epistolares que temos notícia, há pelo menos dez séculos atrás. Para efeitos de recorte de tecnologia, pensemos que a Match.com data de 2000. Esse conglomerado de serviços de pegação começou como um site de encontros, como tanta agências reais faziam antes dele, onde preenchia-se uma ficha e através de algumas combinações e disponibilização do perfil encontrava-se candidates.

O conglomerado Match.com possui entre seus mais populares apps o Tinder, Badoo, Parperfeito e Divino Amor. Este último, dedicado a pessoas que buscam um amor em Cristo. A variedade de aplicativos é uma primeira informação relevante: só no Brasil, são mais de vinte possibilidades. Entre elas, é possível usar um aplicativo com recorte de gênero e identidade sexual, especificando serviços para lésbicas, gays, transexuais, travestis. É possível flertar com quem confirmou presença nos mesmos eventos no facebook que você ou com quem você cruzou na rua. Nos aplicativos mais “padrão”, é possível responder a uma série de perguntas e através das respostas em comum achar combinações ideais ou ainda encontrar alguém para patrocinar você. Enfim, as opções são tantas quantas as possibilidades afetivo-sexuais.

No mundo, em pesquisa de 2015, uma em cada três pessoas admitiu que flerta online. Entre estas pessoas que usam aplicativos, também uma em cada três admitiu já estar em um relacionamento (infelizmente, na pesquisa não houve recorte de quantas estão assumidamente em um relacionamento em seus perfis, e quantas a decisão é mútua, mas a mesma pesquisa dá conta de que mais de ½ mente). Também, em um recorte de maiorias, a maioria que usa os aplicativos de pegação são homens, a média etária de 33,8 anos (43%), e são pessoas que trabalham em horário integral e em geral ocupam cargos de gerência ou profissionais sênior (63%). Uma explicação seria que esta faixa, preocupada com a carreira profissional, usaria aplicativos pela facilidade e economia de tempo e energia disponível para pegação. Mais além da justificativa liberal para o serviço, está o interesse liberal no serviço: essa faixa, solteira e cada vez mais sem crianças, tem dinheiro para gastar em uma suposta qualidade de vida, tornando-se alvo principal dos serviços e produtos de nosso tempo. Em 2015, 100 milhões de pessoas ao redor do mundo utilizavam aplicativos de pegação. O Brasil é um dos três países que mais utilizam o Tinder, sendo responsável por cerca de 7 milhões de matchs anuais. Cada match, uma centena de dados.

Desta feita, é importante refletir sobre o que significa tamanha circulação de dados. Como criamos, como circula, quais os destinos e decodificações destes dados são perguntas que devem ser feitas, já que estes já são parte importante de nossa cultura de consumo – onde ou você consome ou é produto – de forma individual ou coletiva, através da Big Data. Também quais marcadores são usados para alimentar essa cultura de pegação, já que nascem, antes de tudo, nas cabeças de desenvolvedores na Vale do Silício. Como guardamos estes dados? A quem pertencem?

Esta última questão liga-se a outra esfera de preocupação: os limites entre público e privado, íntimo e aparente. Não só se são públicos os dados, ou a quem pertencem no final, vide a treta do Zuckerberg, mas também como constroem-se as relações, o que são temas referentes apenas às pessoas envolvidas e o que são temas concernentes a acordos coletivos.

Doutro lado, a economia cotidiana conforma-se cada vez mais em uma cultura do uso de apps e aparelhos móveis. A mobilezação da vida provoca a geração de hábitos de consumo imediatistas, à mão, com recursos e utilidades de um computador portátil. Somada à appzação da vida, esses computadores pessoais podem ser usados para serviços muito específicos, pedir gás, encontrar alguém pra transar ou fazer uma transferência bancária. Também são altamente personalizáveis e usam aprendizado da máquina para otimizar a experiência.

As facilidades oferecidas pelos apps e serviços móveis podem estar fomentando características sociais específicas, afetando diretamente a forma como nos relacionamos. Seja pela personalização oferecida pelos apps, impossível na vida real – apesar de ser bem próximo do possível através do dinheiro – seja pelas maneiras utilizadas para mediar a relação entre pessoas reais, os aplicativos influenciam na percepção e relação com outrem, mas também consigo. Se a forma como se apresenta ao mundo está baseada, ainda que em partes, em uma plataforma digital, ali será criada e alimentada uma persona que influencia na autopercepção. Os aplicativos de pegação, dessa forma, talvez não o façam mas têm o poder de criar e reproduzir formas de se relacionar consigo e com outres. A maioria destas formas e inclinações fazem parte da natureza humana e se manifestam há anos, outras, no entanto, são alimentadas diretamente por tecnologias contemporâneas como estes aplicativos.

A potência dos aplicativos de pegação é visível também através dos riscos de segurança que oferecem. Do mais óbvio ao mais sofisticado, os fatores anteriores somados são uma bela fonte de riscos: a cultura de mobilezação por exemplo, coloca em todos os bolsos um – às vezes nem tão – pequeno computador pessoal dotado de, no mínimo, sistema de antena e rádio. No geral, conta também com acesso a internet, barômetro, acelerômetro, câmera etc… A quantidade de dados que um aparelho destes pode coletar e processar é bastante relevante, não só os “involuntários” mas também os voluntários. Além dos dados coletados através do aparelho, que podem trafegar com ou sem sua permissão, os dados podem ser interceptados ou mesmo a pessoa que os recebe pode não ser exatamente o que diz ser.

Uma pesquisa de vulnerabilidade promovida pelo antivírus Kaspersky mapeou que um quinto dos homens (que são a maior parte dos usuários do aplicativo) divide sua informação pessoal depois de apenas alguns dias. Entre as mulheres, uma a cada quatro prefere não responder a pergunta, e o outro quarto divide informação íntima somente depois de meses.

Nos casos de ataque promovido por um pessoa intermediando a informação, ou roubando a informação das companhias, temos os clássicos casos de chantagem e extorsão. Além dos impactos individuais causados, esses casos também servem como demonstrativo do volume e relevância social da Big Data composta por informações dessa natureza.

Caso emblemático é o do site/serviço Ashley Madison, uma empresa de encontros especializada em pessoas já casadas. Com o lema “a vida é muito curta, curta um caso”, o site, ainda em funcionamento, teve os dados de 30 milhões (em uma database de 37 milhões) de pessoas hackeados e divulgados em 2015. O grupo que se responsabilizou pelo ataque chamava-se Impact Team [Time de impacto] e não chantageou nem usuários nem a empresa, apenas divulgou os dados. O objetivo, segundo comunicados divulgados pelo grupo, era forçar sites da controladora da Ashley Madison a sair do ar, por suas práticas pouco “éticas”. Além do site de encontros para pessoas casadas, a empresa também controla desde 2008 outra agência virtual de encontros entre “homens bem-sucedidos e mulheres bonitas”. Além dos objetivos morais do grupo hacker, o vazamento é digno de nota também pela natureza das informações vazadas. Ao contrário de outros leaks, que miraram figuras importantes ou ambientes políticos, o ataque à Ashley Madison expôs dados sobre a sexualidade de homens e mulheres que muitas vezes eram ocultados de seus pares, famílias e sociedade. De orientação sexual a fetiches, centenas de pessoas ficaram em choque com o que poderia ser exposto, o que motivou inclusive suicídios, e dezenas de homens desesperados. Foi a primeira vez que um montante massivo de dados “íntimos” sobre a sexualidade das pessoas foi jogado nas interwebs da vida.

Quem viu o filme conhece as dramáticas consequências desse desiresleak fictício

No tráfego de informações, muitos aplicativos expoem a grande risco usuárias e usuários. O Tinder, por exemplo, sobe fotos em um http normal, não seguro. Assim, interceptando as informações sobre uma simples foto uploadeada no app é possível ter acesso a informações como gênero declarado, orientação sexual, modelo do celular, sistema operacional, idade e aplicativo em uso. Estes mesmos dados, no entanto, podem ser usados pela companhia com ou sem a autorização de quem segue deslizando fotos. Há alguns anos aplicativos como Grindr são acusados de repassar informações sigilosas e sensíveis, como o status de HIV das pessoas. O Okcupid repassou a agências de propaganda e big data informações sobre o uso de drogas fornecidas por quem usa o aplicativo no computador ou mobile. Não sabemos, enfim, o que fazem com toda informação acumulada, informação extremamente bem georreferenciada.

Além dos ataques virtuais, existem possibilidades e registros de ataques planejados para se tornar físicos. A informação dos locais de conexão e distâncias entre users, por exemplo, é pública e parte da oferta do aplicativo. Assim, em locais como a Rússia, e seu histórico de perseguição sexual, a triangulação através dos locais de conexão torna possível encontrar usuários do Grindr, sem o consentimento e conhecimento desta pessoa.

Os dados coletados por esses aplicativos não se limitam aos informados voluntariamente nos questionários, tampouco às leituras dos espertofones enquanto máquinas. O conteúdo das conversas também é armazenado pelas companhias. Somam-se a isso tempo gasto em cada foto, horários e lugares de conexão, porcentagem de pessoas brancas e negras nas interações, palavras mais usadas e dados que se referem a você mas não são seus, como por exemplo as características das pessoas que em geral se interessam por você. As possibilidades de coletas de dados são enormes.

A maior parte dos aplicativos é bastante obscura em relação ao que faz com os dados e mesmo por quanto tempo os mantém mesmo quando uma conta é desativada/apagada. Mesmo entre os aplicativos de uma mesma empresa, como o Parperfeito e Tinder, pertencentes à Match.com, existem políticas de privacidade diferentes.

As influências dos aplicativos de pegação e a cultura de dados que circunda a questão estão longe de serem esgotados, já que mal são estudados, em especial cá em terras tupiniquins. Há quem diga, por exemplo, que os aplicativos cresceram em função do papel do feminismo na contemporaneidade, já que aumentou o controle das mulheres sobre o flerte. Posto que as interações só são possíveis com demonstração de interesse mútuo, o universo de gentlemans enviando gratuitamente o pênis diminuiu. Os aplicativos também aumentam o controle e autoconfiança, não só de mulheres mas também de grupos historicamente marginalizados na busca de parceires afetivo-sexuais, como pessoas trans ou mesmo lésbicas, bisexuais e gays. Pessoas com fetiches também têm mais liberdade e facilidade em encontrar companhias, já que as preferências são parte da apresentação (mais ou menos enfática) de cada persona nos aplicativos. A interação humana em constante adaptação às tecnologias e economias sofreu impactos que podem também se chamar positivos.

No entanto, o assédio não diminuiu de forma tão drástica a ponto de ser realmente uma vitória. Mesmo aumentando o poder das mulheres em relação às escolhas sexuais, a decisão final – íntima e pública – ainda está relegada ao homem, que decide, por exemplo, o que é sexo e o que é namoro. Mesmo quando as mulheres decidem, por exemplo, ter “só sexo”, o parceiro tem mais poder em legitimar ou deslegitimar a decisão do que a própria mulher. O “aumento” de opções também pode ter diminuído o “valor” das mulheres, já que a facilidade em encontrar novas parceiras pode ter diminuído a disposição masculina em “aguentar” exigências femininas – como de respeito, por exemplo. Por fim, as relações afetivo-sexuais, envolvidas em tabu desde sempre, sofrem com a cultura dos aplicativos, mobiles e pegação, passam por um processo de gamificação, outra palavra em voga no universo tecnológico e consumista. Quem pega mais, como se dá a interação entre pares, quais os objetivos destas interações, por exemplo, tornam-se etapas ou processos onde a jogabilidade e objetivos imediatos são mais importantes que a conexão humana, por assim dizer.

Longe de apenas criarem novos problemas, os aplicativos de pegação e a cultura que deles emerge reforçam e ilustram dispositivos de poder que já existem internalizados nas sociedades que atendem. A machismo, a volubilidade das relações, a intolerância de gênero e práticas sexuais etc já existiam antes dos aplicativos, mas ganham novos contornos com a tecnologia à disposição. Ainda objetivando apontar a pertinência do tema, objetivo deste ensaio, um tópico pode ser destacado nesse sentido.

Observando uma tabela dos aplicativos mais usados no Brasil, produzido pelo Privacidadebr em 2017, é possível identificar as falhas de comunicação e segurança entre aplicativos e pessoas usuárias. A coluna do meio chama a atenção: apenas um entre os 14 aplicativos mais baixados solicita consentimento para compartilhar informações com terceiros. Consenso e consentimento são conceitos ainda pouco claros para a maioria dos relacionamentos. Impregnados do mito do amor romântico e machismo patriarcal, grande parte dos relacionamentos (em especial heterossexuais) não funciona baseado em acordo mútuos esclarecidos e constantemente reformados. Não se pede consentimento nestes relacionamentos e quando isso se passa muitas vezes ter dito sim uma vez dispensa reiterar o consentimento. O mesmo nos aplicativos, o mesmo na vida romântica. Os aplicativos reproduzem em sua lógica as mesmas premissas dos relacionamentos, e a divulgação de dados sem consentimento poderia se comparada, por exemplo, a pornografia de vingança, uma exposição de vítimas que sequer sabem que estão sendo expostas. Nas relações entre user tais características também ficam claras, já que apesar de relativo controle atribuído às mulheres ainda são espaços de assédio, abuso, exposição e controle. Uma vez que a chave para bons relacionamentos é o acordo mutuo e consensual, esses aplicativos estão reforçando características opressivas e inserindo uma forma de se relacionar que altera o suporte mas mantém a má qualidade das relações.

https://chupadados.codingrights.org/suruba-de-dados/

http://privacidadebr.org/dating-apps/

https://www.kaspersky.com/blog/dating-apps-threats/19905/

https://ourdataourselves.tacticaltech.org/posts/20-data-dating

https://www.theguardian.com/technology/2016/feb/28/what-happened-after-ashley-madison-was-hacked

Online Dating: A Critical Analysis From the Perspective of Psychological Science
olha.ai/GYCo7G
Liquid love? Dating apps, sex, relationships and the digital transformation of intimacy
olha.ai/P6HDRs
Privacy Risks in Mobile Dating Apps
olha.ai/3XiNw6
Love me Tinder: Untangling emerging adults’ motivations for using the dating application Tinder
olha.ai/jdwL3K

 

O jogo é manipulado

 

Porque mesmo sexo consensual pode ser ruim. E porque não estamos falando sobre.

 

 

No inverno passado, Reina Gattuso[1] se tornou especialista literatura e estudos de gênero em Harvard e escreveu uma coluna quinzenal para o jornal da faculdade, o Crimson. Ela cobriu uma variedade de assuntos, entre eles sua sexualidade (ela se identifica como queer) e as hierarquias de classe bizantinas de Harvard, e escreveu uma coluna regular chamada “Crítica do vinho de quatro dólares”. Em fevereiro, ela dedicou sua coluna [2] ao tema sexo sexista.

Gattuso não é contra o sexo de maneira alguma. “Eu não digo sim. Eu digo, sim, sim. Eu digo sim, por favor”, escreveu ela. E ela disse sim em uma festa regada a bebidas, oferecida por um grupo de homens que ela não conhecia. Um dos homens disse a ela que, porque ela era bissexual, ele assumiu que ela estava “especialmente aberta a foder”. Ele disse que ela poderia sair com a namorada dele se ela se pegasse com outro dos homens.

“Eu tomei tantas que minha memória se tornou água escura, breves flashes de quando eu resfolegava”, escreveu Gattuso. “Estou sendo beijada. Há um menino, então outro garoto. Eu continuo perguntando se eu sou bonita. Eu continuo dizendo sim. “Mas na parte da manhã”, ela escreveu “Eu me sinto estranha sobre o que houve” e não tinha certeza de como expressar seus sentimentos de insatisfação e confusão sobre “uma experiência tão zuada”.

Eventualmente, ela percebeu que o que ela estava lidando não era apenas a noite em questão, mas também o fracasso do feminismo no campus para abordar esses tipos de experiências. Nós tendemos a falar sobre o consentimento “como um processo individual”, escreveu ela, “não perguntando ‘Que tipos de poder estão operando nesta situação?’, Mas apenas perguntando ‘Você disse ou não que sim?’. Feministas, ela continuou, “às vezes falam sobre ‘sim’ e ‘não’, como se não fossem complicados… Mas o sexo ético é difícil. E não vai parar de ser difícil até… minimizar, tanto quanto possível, desequilíbrios de poder relacionados ao sexo”.

Pode parecer que as feministas contemporâneas estão sempre falando sobre os desequilíbrios de poder relacionados ao sexo, graças às recentes campanhas robustas e radicais do campus contra estupro e agressão sexual. Mas as deficiências do feminismo contemporâneo podem estar não na sua super-radicalização, mas sim na sua sub-radicalização. Porque, fora do assédio sexual, há pouca crítica do sexo. As jovens feministas adotaram uma ideologia exuberante, atrevida, confiante, justa, orgulhosamente vadia*, que vê o sexo – enquanto é consensual – como expressão da liberação feminista. O resultado é um universo sexual perfeitamente dividido ao meio, no qual há tanto assédio como positividade sexual. O que significa uma vasta extensão de sexo ruim – encontros sem alegria e exploradores que refletem uma cultura persistentemente sexista e podem ser difíceis de reconhecer sem parecer puritana – passou largamente ininterrupta, deixando algumas mulheres jovens se perguntando por que se sentem tão fodidas por foderem.

O feminismo tem uma relação longa e complicada com o sexo, que foi do abraço à crítica e voltou. No momento em que uma geração de mulheres despertou o feminismo do seu repouso imposto por volta da virada do milênio, as guerras sexuais dos anos 80 já estavam terminadas há tempos. Algumas feministas de segunda onda, incluindo Andrea Dworkin e Catharine MacKinnon, viam o sexo, a pornografia e o sexismo como uma única peça, achando impossível liberar os feixes de prazer do sufocante tecido da opressão. As feministas chamadas sexualmente positivas – Ellen Willis, Joan Nestlé, Susie Bright – colocaram-se contra isso que viram como uma inclinação puritana. As cruzadistas sexualmente positivas ganharam a guerra por um milhão de razões, talvez especialmente porque seu trabalho ofereceu otimismo: que a agência sexual e a igualdade estavam disponíveis para as mulheres, que não estávamos destinadas a viver nossas vidas sexuais como objetos ou vítimas, que poderíamos tomar nossos prazeres e nosso poder também. Eles ganharam porque o sexo pode ser divertido e emocionante e porque, em sua maior parte, os seres humanos querem demais participar disso. [3]

Por isso, era natural que quando o feminismo fosse ressuscitado por mulheres novas criando um novo movimento, fosse autoconscientemente sexualmente amigável, insatisfeito em sua abordagem aos sinais e símbolos da objetivação. Ninguém jamais confundiria essas feministas por bruxas sem humor ou por frígidas rejeitadas. Mas a filosofia subjacente mudou ligeiramente. Positividade sexual era originalmente um termo usado para descrever uma teoria das mulheres, do sexo e do poder; defendeu qualquer tipo de comportamento sexual – da safadeza ao celibato ao jogo de poder consciente – que as mulheres poderiam desfrutar em seus próprios termos e não em termos ditados por uma cultura misógina. Agora, tornou-se uma abreviatura para uma marca de feminismo que é como uma líder de torcida, não uma censora, do sexo, todo sexo. O foco sexual do feminismo diminuiu em uma questão: coerção e violência. O sexo que ocorreu sem consentimento claro não é mais sexo; é uma violação.

Nesta linha de pensamento, sexo após um sim, sexo sem violência ou coerção, é bom. O sexo é feminista. E as mulheres com poderes supostamente estão ai para desfrutar o inferno fora dele. De fato, Alexandra Brodsky, estudante de direito de Yale e fundadora da organização anti-violação Conheça seu IX[4], me diz que ela ouviu falar de mulheres que sentem que “não ter uma vida sexual superexcitante e superpositiva é de certa forma uma fracasso político”.

Exceto as mulheres jovens que nem sempre gostam do sexo – e não por causa de qualquer condição psicológica ou física inatamente feminina. O hetero (e não hetero, mas, vamos enfrentá-lo, principalmente hetero), sexo oferecido a mulheres jovens não é de muito alta qualidade, por razões que têm a ver com a inépcia juvenil e a ternura dos corações, com certeza, mas também com o fato de que o jogo permanece manipulado.

É manipulado de maneiras que vão muito além do consentimento. Os alunos com quem falei falaram sobre “direitos sexuais masculinos”, a expectativa de que as necessidades sexuais masculinas sejam prioritárias, com homens presumidos para ter sexo e as mulheres presumidas em dar-lhes. Eles falaram de como os homens definem os termos, acolhem as partes, fornecem o álcool, exercem a influência. A atenção masculina e a aprovação continuam a ser a métrica validadora do valor feminino, e as mulheres ainda estão (talvez cada vez mais) esperadas em parecer e foder como estrelas pornô – impulsivas, suaves, seu prazer performado persuasivamente. Enquanto isso, o clímax masculino continua sendo o final oficial de encontros heteros; O orgasmo de uma mulher ainda é a evasiva rodada bônus opcional. Depois, há o duplo padrão que continua a redundar negativamente para as mulheres: uma mulher em busca é rodada ou difícil; Um homem em busca é saudável e excitado. Uma mulher que diz não é uma provocação; Um homem que diz não está rejeitando a mulher em questão. E agora esses juízos sexuais diminuem em duas direções: as mulheres jovens sentem que estão sendo julgadas por terem muito sexo, ou por não terem o suficiente, ou suficientemente bom, sexo. Finalmente, jovens muitas vezes fazem sexo muito bêbadxs, o que, em teoria, significa sexo parcial para ambas as partes, mas que, na prática, é muitas vezes pior (tipo, fisicamente pior) para as mulheres.

Como Olive Bromberg, uma estudante queergênero de 22 anos no segundo ano em Evergreen State vê, as noções modernas de positividade sexual só reforçam esse desequilíbrio de poder de gênero. “Parece haver uma suposição de que é ‘Oh, você é sexual, isso significa que você será sexual comigo'”, diz Bromberg. “Isso alimenta esse sentido do direito sexual masculino através da libertação sexual de si mesma, e isso é realmente zuado”.

E, novamente, isso faz parte do sexo consensual, o tipo que é supostamente uma vitória das mulheres feministas. Há todo um outro nível de confusão em torno das difusas margens de quando se trata de experiências como a que eu tive na faculdade há 20 anos. Foi um encontro que os ativistas de hoje podem chamar de “violação”; que o trasgo feminista Katie Roiphe, cujo sermão ativista anti-estupro, The Morning After [5], quando então era só raiva, teria chamado “sexo ruim”; e o que eu entendi no momento não ser atípico quanto ao sexo disponível para meus colegas de graduação: bêbado, breve, áspero, devidamente acordado e nem um pouco prazeroso. Foi um encontro com o qual consenti por razões complicadas e em que meu corpo participou, mas senti-me totalmente ausente.

“Muito sexo se faz assim”, escreveu Gattuso em maio, depois que suas populares colunas Crimson chamaram a atenção dea Feministing, [6] um site no qual ela se tornou uma contribuidora. “Sexo onde não importamos. Onde podemos não estar lá. Sexo onde não dizemos não, porque não queremos dizer não, sexo, onde dizemos sim mesmo, quando já estamos fazendo isso, mas onde tememos… que se disséssemos não, ou não gosto da pressão em meu pescoço ou da maneira como eles nos tocam, não importa. Não contava, porque nós não contamos”.

Isso não é exagero de puritanismo sobre os perigos morais ou emocionais da “cultura da ficada”. Isso não é uma objeção à promiscuidade ou à natureza casual de alguns encontros sexuais. Em primeiro lugar, estudos mostraram que os jovens de hoje estão realmente tendo menos sexo do que os pais. Em segundo lugar, os relacionamentos antiquados, do namoro ao casamento, apresentaram seus próprios riscos para as mulheres. Ter sexo humilhante com um homem que a trata terrivelmente em uma festa da faculdade é ruim, mas não é inerentemente pior do que ser evitada publicamente por ter tido relações sexuais com ele, ou ser incapaz de fazer um aborto depois de engravidar dele ou ser condenada a ter um decepcionante sexo com ele nos próximos 50 anos. Mas ainda é ruim de maneiras que valem a pena falar.

Maya Dusenbery, diretora editorial da Feministing, diz que ela escuta cada vez mais questões de mulheres jovens em campi universitários que “não são apenas sobre a violência, mas todas as outras besteiras com que estão lidando sexualmente – como podem fazer com que os caras as façam gozar, por exemplo. Eu acho que feministas são necessárias para apresentar-lhes uma visão alternativa positiva para o que o sexo poderia ser e não é. E não se trata apenas de estupro. Essa não é a única razão pela qual a cultura sexual é uma merda”.

E não é como se essa cultura desaparecesse após a formatura. Dusenbery, que agora tem 29 anos, fala de sua “grande vergonha feminista”: depois de uma década de atividade sexual, ela muitas vezes ainda não goza. “De uma forma que se sente tão superficial, mas, se eu acredito que o prazer sexual é importante, isso é terrível! Vamos, Maya! Comunique!”. Ela acabou sentindo-se mal por não ter feito o trabalho de dizer a seus parceiros como fazê-la se sentir bem. “O que eu quero não é ter esse peso para mim. Eu quero que um dos meus parceiros do sexo masculino, que são homens maravilhosos que se importam comigo, faça apenas uma vez como, ‘Não, isso é inaceitável para mim. Eu não vou continuar a fazer sexo com você enquanto você não estiver gozando!’ e não consigo imaginar isso acontecendo”.

Gattuso, que agora está em uma bolsa Fulbright na Índia, escreve-me em um e-mail: “Às vezes penso que, em nosso desejo feminista real, profundo e importante, de comunicar que a violência sexual é absolutamente e totalmente não ok… podemos esquecer que nós muitas vezes somos feridas de maneiras mais sutis e persistentes… E muitas vezes podemos esquecer totalmente que, no final do dia, o sexo também é prazer”.

Prazer! As mulheres querem prazer, ou pelo menos uma dose igual dele. Isso não significa algum conjunto de tarefas sexuais quid-pro-quo. Ninguém está dizendo que o sexo não pode ser complicado e perverso, seus prazeres dependentes – para alguns – dos antigos desequilíbrios de poder. Mas suas complicações podem e devem ser mutuamente suportadas, oferecendo graus comparáveis ​​de autodeterminação e satisfação para mulheres e homens.

Afinal, o sexo também é, ainda, político. O feminismo contemporâneo nos pede para reconhecer que as mulheres “podem ter tantos parceiros como homens, iniciar o sexo tão livremente quanto os homens, sem serem brutalizadas e estigmatizadas, e isso é ótimo”, diz Salamishah Tillet, professor de estudos ingleses e africanos na Universidade de Pensilvânia e cofundador da A Long Walk Home, [7] uma organização que trabalha para acabar com a violência contra as mulheres. O problema surge, ela continua, com a sensação de que “isso só significará que somos iguais. Isso não é uma resposta para um sistema de dominação ou exploração sexual persistente. Essas mulheres ainda estão tendo esses encontros dentro dessa estrutura maior, e os homens não estão sendo convidados a pensar que as mulheres fazem sexo como parceiros iguais”.

A tradição feminista negra nunca comprou completamente a positividade sexual como um meio para um fim político. Os estereótipos de hipersexualização sempre tornaram mais difícil para as mulheres negras serem criadas como vítimas de agressão sexual e também tornaram mais difícil para elas se envolverem em uma cultura positiva para o sexo. Apenas no ano passado (2014), Bell Hooks assustou uma audiência durante uma entrevista sugerindo que “a face da … liberação sexual” para as mulheres negras poderia ser o celibato.

Não estou sugerindo que o feminismo contemporâneo acabe com o seu quadro sexual positivo ou com o seu ativismo anti-estupro. Mas talvez seja necessário adicionar um novo ângulo de crítica. Descrevendo a tensão da positividade popular do sexo muitas vezes simplesmente entendida como “Goze, garota”, Brodsky diz: “Eu penso nisso às vezes como uma inclinação para o bom sexo. Nesse sentido, existem esses fatores estruturais que conspiram contra o sexo terrível, mas no trabalho ou no quarto, se você tiver a palavra mágica, se você tentar o suficiente, se você for bom o suficiente, você pode transcender aqueles”. Como incentivo, esse tipo de reforço sexual pode ser muito valioso. Mas, continua Brodsky, precisamos melhorá-lo, assim como fazemos no local de trabalho. “Precisamos de soluções coletivas e soluções individuais”.

Dusenbery imagina um mundo em que as feministas parem de usar a linguagem do combate – como no combate à cultura de estupro – e, em vez disso, proponham uma visão específica sobre o que a igualdade sexual poderia implicar. “Isso incluiria muito mais: do fosso do orgasmo à verdadeira deseducação sexual criminosa da nossa juventude, dos direitos ao aborto ao duplo padrão sexual. A ampliação do escopo não só nos impulsionaria a fornecer o mesmo tipo de análise profunda desenvolvida em torno da cultura de estupro nos últimos anos, mas também nos ajudaria a ver melhor as conexões entre todas as desigualdades na cultura sexual”.

Uma coisa que está clara é que as feministas precisam elevar o padrão do modo de vida sexual das mulheres, para níveis altos, bem mais altos. “Claro, ensinar o consentimento para alunos da faculdade pode ser necessário em uma cultura em que as crianças estão se formando no ensino médio pensando que está certo ter relações sexuais com alguém inconsciente”, diz Dusenbery. “Mas eu não quero que nunca se perca de vista o fato de que o consentimento não é o objetivo. Sério, Deus nos ajude se o melhor que podemos dizer sobre o sexo que temos é que foi consensual.

*referência à Marcha das Vadias

[1] https://reinagattuso.com/

[2] http://www.thecrimson.com/column/material-girl/article/2015/2/27/you-think-im-pretty/

[3] N.T. Também “ganharam” porque, ao contrário do pensamento “negativista”, a positividade sexual vende e pode ser melhor apropriada pelo capitalismo e servir a interesses que não sejam (exclusivamente) feministas.

[4] https://www.knowyourix.org/

[5] https://www.theguardian.com/books/2008/jun/01/fiction.society

[6] http://feministing.com/

[7] http://www.alongwalkhome.org/

 

Esse texto é uma tradução de Rebeca Traister, originalmente veiculado em https://www.thecut.com/2015/10/why-consensual-sex-can-still-be-bad.html

Como você ajuda a construir a cultura do estupro

“No início do vídeo, um dos homens afirma: ‘Essa aqui, mais de 30, engravidou’. Enquanto filmam o órgão genital da vítima, um deles narra: ‘Olha como que tá (sic). Sangrando. Olha onde o trem passou. Onde o trem bala passou de marreta’”.

É uma vitória, ínfima, dolorosa e muito muito muito cara que finalmente o “debate” sobre cultura do estupro tenha tomado proporções midiáticas. “Debate” em termos porque a denúncia do estupro coletivo sofrida por uma jovem, bem como a ligação dessa violência bárbara com a cultura do estupro presente em nossa sociedade apenas tomou proporções internacionais porque as mulheres, como sempre, se uniram em uma rede de solidariedade e apoio que dizia: não passarão.

É fácil encontrar, agora, neste caso, nas notícias e na time line, a crítica à cultura do estupro. Mesmo homens, que não costumam sensibilizar-se com denúncias feministas, se sentiram impelidos a comentar o absurdo e colocar-se como parte do problema.

Atitude louvável? Talvez. Mas seguramente mesmo estes homens que se solidarizam e fazem mea culpa na internet não têm dimensão do que é a cultura do estupro. Este texto também não pretende exibir uma definição final para o conceito e prática, mas existe pela mesma necessidade que deu origem ao blog Siririca: evidenciar que a prática cotidiana – em especial masculina – está absolutamente impregnada de misoginia e pela cultura do estupro, e que a pornografia, apesar de não ser a mãe de todos os males, tem papel fundamental na difusão e implementação dessa cultura.

Pra começar, é de embrulhar o estômago a semelhança das cenas do vídeo que os homens expuseram dessa mulher com a produção pornográfica encontrada largamente na internet.  A postura, a fala, as “justificativas” e até mesmo os “ângulos” de câmera são reproduções fieis de produções pornográficas – ou seria o contrário?

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“Vereador posta foto com mulher nua”

Não só a estética do vídeo é igual à pornografia. A violência que eles reproduzem também vem da pornografia (ou, de novo, seria o contrário?). Nos filmes pornográficos – a única educação sexual que TODA NOSSA SOCIEDADE consome – baseiam-se justamente na agressividade e violência contra mulher. Nos filmes pornográficos é comum, como instrumento de excitação, chamar a mulher de vagabunda, puta, piranha, etc. Também é comum, basta uma busca no google, ver as expressões que bucetas e cus foram ou serão arrombados. Também é no Brasil o termo mais buscado em pornografia a expressão novinha, que nada mais é que uma manifestação da pedofilia (ou considere a aparência das atrizes: depiladas como criança, maquiadas como jovens, atuando recatadas como virgens). Os trinta homens que violentaram uma garota estavam reproduzindo o que assistem diariamente em sites, mas também reproduziam o que toda a sociedade repete diariamente.

A cultura do estupro é a cultura que assume como normal, plausível ou aceitável a violência sexual contra mulheres. Posto que pornografia é baseada enquanto produção cultural na violência sexual contra mulheres, todo pornografia é um estupro. Você pode ver isso através de vídeos e outras mídias que mostram os bastidores da pornografia, ou mesmo através do vídeo que assistiu ontem no pornhub: a expressão da atriz, era mesmo de gozo, ou era de dor?

Você, homem, sabe diferenciar essas expressões?

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Da mesma forma, a pornografia não se limita apenas aos filmes que assistimos na privacidade de nosso quarto e reproduzem apenas, e descompromissadamente, nossos desejos mais íntimos (e se você tem como desejo intima estuprar alguém, estuprador você é). A Playboy americana, por exemplo, deixou de publicar nus não porque não houvesse mais interesse do público, mas simplesmente porque o próprio universo cultural assimilou as características do pornô de tal forma que não era mais tão lucrativo expor mulheres “apenas” nuas. Mulheres nuas não são mais “feijão com arroz”, esse tipo de pornografia é apenas um lanchinho. O feijão-com-arroz pornográfico hoje é a sexualização da violência contra a mulher.

Quantas vezes seu parceiro te segurou com força, puxou pelos cabelos, segurou suas mãos nas costas, começou o ato sexual sem sua autorização expressa ou enquanto você dormia ou mesmo estava bêbada ou dopada demais pra reagir? Quantas vezes você transou com seu companheiro porque se sentia na obrigação de fazê-lo? Quantas vezes você se sentiu em débito, ou foi cobrada por homem, por “dever” sexo, já que ele isso ou aquilo? Quantas vezes você transou sem vontade, pra agradar alguém ou “provar” alguma coisa?

Quantas vezes os livros, séries, novelas, revistas, discursos não reiteraram essas posturas?

Entenda-se aqui pornografia como toda exposição sexual com objetivo de gerar desejo. Pelo que vimos até agora em nossa cultura ocidental, mulheres vendem mais, porque são melhor reconhecidas como “objeto” do que homens. Isso serve pra vender um padrão de vida – quando os racionais desejam ser ricos e TER uma morena linda – mas também serve pra vender desodorante: Usando Axe você vai comer quem quiser, mesmo que ela não queira.

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“Homem processa marca Axe por não atrair mulheres”

Ao mesmo tempo que se cobra que as mulheres fiquem encerradas em casa usando burca para que não sejam submetidas a violência sexual, toda a pornografia – e lembro que é a única educação sexual e cada vez mais acessível a jovens de 10, 12, 13 anos – reitera que as mulheres são predadoras sexuais sempre dispostas a sexo. Pode começar a estuprar ela, tenha certeza, uma hora ela vai gostar.

Tão esquizofrênica essa sociedade misógina que também reproduz – mesmo repetindo que todas as mulheres sempre podem ser penetradas – que estupro deve ser uma correção em seu comportamento. Não gosta de homens? Estupra, assim ela vê o que é bom. Se comportou mal? Estupra, assim ela se reeduca. E os homens que se comportam mal? Estupra, assim ele melhora.

A cultura do estupro é a cultura que cotidianamente diz que violência sexual é aceitável e, mais que isso, necessária. É seu deputado, sua novela, sua série de ficção medieval – que tem estupros em metade dos capítulos porque “dá peso psicológico pra trama” – é sua piada sobre dar ou tomar no cu, é a capa do seu caderno que tem uma mulher exposta como bife, é a comédia que você assiste e ri da mulher bêbada sendo tripudiada, é o meme que você compartilha.

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“branquinha gostosa em sexo forçado”

Nossa cultura é a cultura do estupro. E quando você consome e/ou sente prazer com pornografia você está reforçando essa cultura, e participando da violência no corpo de centenas de mulheres.

Não foram trinta homens. Foram todos.

 

 

+ http://sexoimporta.tumblr.com/post/91418225229/andrea-dworkin-sobre-pornografia

+ http://hypescience.com/ver-pornografia-na-internet-faz-criancas-acharem-que-estupro-e-comportamento-normal/

+ https://www.youtube.com/watch?v=qj3oW4WaKjs

O que as mulheres buscam no Pornhub ao redor do mundo

Para fechar o Mês Internacional da Mulher, nos unimos a nossxs amigxs da Bustle para trazer os dados mais recentes sobre os interesses das mulheres em pornografia[1]. Ao longo dos últimos anos, Pornhub adotou um olhar mais atento a visitantes do sexo feminino nos nossos posts What Women Want e More of What Women Want. Em ambos os casos, muito do nosso foco estava comparando as mulheres aos homens para ver como os seus hábitos de visualização de pornografia eram diferentes. Para o Dia da Mulher, decidimos deixar os homens fora do quadro, e olhar para como as mulheres ao redor do mundo diferem umas das outras.

Em nossa review do ano 2015 verificou-se que 24% dos telespectadores do Pornhub em todo o mundo são mulheres. Mais de 60 milhões de visitantes por dia nos permitiu uma grande base de dados anônimos para este relatório. Vamos começar dando uma olhada mais ampla no mundo: A maioria das mulheres na América do Sul, Norte e Central preferem assistir na categoria “lésbica”. É também popular uma categoria popular em outras partes do mundo ocidental, incluindo Europa e Austrália. As mulheres no Continente Africano preferem ver a categoria “ebony”.

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Categorias mais vistas pelas mulheres ao redor do mundo

O mapa a seguir nos dá uma aproximação à Europa. Mais uma vez, podemos ver que “lésbica” é a categoria dominante para as mulheres em muitos países, mas a Alemanha e a Turquia preferem a categoria 18+ “teen”. Mulheres na República Checa preferem o toque mais suave do “female friendly”. Sérvia e Macedônia tanto gosta porn “mature”, enquanto as mulheres na Rússia, Ucrânia e Bielorrússia gostam do “anal”. Podemos ver a preferida do Cazaquistão “pau grande” vindo logo abaixo.

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Categorias mais vistas pelas mulheres – Europa

O mapa a seguir oferece um olhar mais de perto para os países do continente e vizinhos asiáticos. “Hentai” é a categoria mais popular para as mulheres na Ásia Oriental, ao lado de “teen” em muitas partes do Sul da Ásia Oriental. Como a maioria, as mulheres no sul da Ásia gosta de assistir a categoria “lésbica”.

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Categoria mais vista pelas mulheres – Asia

Nosso próxima olhada é para alguns dos países de maior trânsito no Pornhub. “Lésbicas” foi de longe a categoria mais vista nos Estados Unidos, por isso, então resolvemos focar nas principais categorias relativas, ou seja, aqueles que são mais vistas em cada estado, em comparação às mulheres no resto do país.

Alguns estados se diferem do resto do país. Em Washington, mulheres veem “hentai” mais regularmente. Californianas amam “big tits” e Colorado prefere “anal”. Lá no Alaska mulheres realmente curtem “big dick” e o Hawaii gosta da categoria “asiática”.

Vídeos categorizados como 18+ “teen” são populares em muitos estados em comparação com o resto do país, assim como vídeos “female friendly”. Missouri, Ohio e Pensilvânia desfrutam de vídeos “bondage”, enquanto as mulheres no Colorado, Indiana, Kentucky e Virgínia Ocidental gostam de ver vídeos “threesome”. Talvez a maior surpresa é a popularidade dos vídeos “ébano” em todo os Estados do Sul.

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Categorias mais vistas pelas mulheres – EUA

O país com segundo maior trafégo do Pornhub é o Reino Unido. Quando comparamos os quatro países[2], descobrimos que as mulheres não foram totalmente unidas em suas preferências pornográficas. Mulheres na Escócia gostam do toque mais suave de vídeos “female friendly” e a Irlanda do Norte gosta de “mature” mais do que o resto do Reino Unido. As mulheres do País de Gales gostam de 18+ porn “teen”, e na Inglaterra “ebony” é visto com mais freqüência.

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Categorias mais vistas pelas mulheres – Reino Unido

As visualizações em categorias relativas nos ajudam a perceber como as preferências diferem, por isso procuramos ver o mais popular no topo das categorias relativas em alguns dos nossos países de maior trânsito. Quando comparado com o resto do mundo, as mulheres nos Estados Unidos procuram “Ebony” 74% mais frequentemente, assim como a África do Sul com um aumento de 95%. Brasil e Argentina procuram vídeos  marcados como “shemale”, enquanto “hentai” é popular no Japão, Taiwan, Filipinas e México.

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Categorias mais vistas pelas mulheres – buscas relativas

O insight final que queríamos compartilhar é quanto tempo as senhoras nestes países gastam assistindo a vídeos a cada vez que visitam o Pornhub. O tempo médio gasto por visita para as mulheres é de 10 minutos e 33 segundos. Mulheres nas Filipinas batem essa média com 14 minutos e 20 segundos em cada visita. Estados Unidos, África do Sul, Nova Zelândia e Austrália,  todos tem a melhor marca de 11 minutos. Muitas das senhoras na Europa e Ásia vêem mais rapidamente do que a média, mas poucas fazem o trabalho mais rápido do que as ucranianas, com apenas 6 minutos e 45 segundos.

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Tempo médio gasto pelas mulheres por visita ao redor do mundo

[1] Os números são da pesquisa anual do Porhub e apesar da escopo se restringem ao espaço amostral apenas do site, desconsiderando outros sites e buscas por pornografia.

[2] Os quatro países da América do Norte.

Glossário porn:

  • Ebony – Negras e negros
  • Female Friendly – Amigávels para mulheres, em geral é o mesmo que soft porn
  • 18+ teen – Adolescentes (mas que supostamente tem mais de 18 anos)
  • Hentai – Desenho erótico no estilo mangá
  • Bondage – Práticas com shiburi (amarras com cordas, cordim e correntes) e práticas sado masoquistas.
  • Shemale – Dependendo do site, pode ser travestis ou mulheres usando dildos, cintaralha, strapon, etc.
  • Mature – Mais velhas, mais velhos.
  • MILF – Moms I’d love to fuck, mães que eu adoraria foder.

Tradução do relatório do Pornhub disponível aqui: http://www.pornhub.com/insights/womens-favorite-searches-worldwide

Clítoris, clitóris, clitorís.

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O clitóris, apesar de única parte do corpo humano com função absolutamente destinada ao prazer – e tendo sempre existido no corpo feminino – só teve sua anatomia de fato estudada e esclarecida em 2008.

2008.

Descobriu-se que o clitóris se estende para a parte de dentro do corpo, e se estabeleceu que o oposto anatômico ao pênis é o clitóris, não a vagina. O clitóris é tão menosprezado como parte importante – importantíssima – do corpo que muita gente que tem um ainda erra seu nome e fala clítoris.

O clitóris é um botãozinho de prazer com mais de oito mil terminações nervosas – o dobro da cabeça do pênis.

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A grafia da palavra é tão controversa quanto todo o resto da sexualidade feminina (se é que se pode chamar de controvérsia a interdição à nossa sexualidade).

Fato é que a palavra tem origem grega, apesar da controvérsia acerca de seu real significado. Clitoris (sem acento nenhuma pra não tomar partido) deriva do radical Kli (que significa inCLInação, e dá origem a palavras como clímax, por exemplo). Também pode derivar do verbo grego Kleio, que significa “fechar” ou “chave”. Soma-se a isso a possibilidade de derivar do substantivo grego Kleitorís, palavra usada para “pequena montanha” ou um tipo de pedra semipreciosa.

Cada origem etimológica carrega um significado para essa importantíssima parte do nosso corpo, e aqui nessa página a gente também não curte academicismos mas acredita que conhecimento é poder. Por isso mesmo, nessa história, o que mais nos parece importante é o fato da palavra clitóris só aparecer nos livros de anatomia no século XIX.

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“Não há justificativa para a eliminação de nosso clitoris, cuja única função é nos dar prazer”

Até o século XVII (no Brasil a palavra começou a circular apenas em 1789) clitóris era uma palavra utilizada para designar – de verdade – pedras preciosas. A falta de consenso – que gera as múltiplas possibilidades de fala e grafia de tantas palavras na nossa língua – tem origem na excessiva cautela e interdição do conhecimento do corpo feminino, pois assim como clitóris é metáfora, vulva, por exemplo, era uma palavra usada para designar a pela das frutas.

Assim, seja qual for a grafia da nossa pedrinha preciosa chave do prazer, o importante é a gente falar sem vergonha. E gozar mais ainda.

Referências:
Morwood, John. The Pocket Oxford Classical Greek Dictionary
Silva, Deonisio. De onde vem as palavras: origens e curiosidades da língua portuguesa.

+ Documentário Clitoris prazer proibido

 

Pornografia do cotidiano – assédio como entretenimento

Mulher encoxada ônibus

Antes de escrever um texto, sempre fazemos o teste do Google [teste autoexplicativo].

Só pra ver o que qualquer pessoa com acesso à internet – como umx adolescente que tente entender do que algo se trata – encontraria em uma busca básica.

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(Clique na imagem para ver os absurdos)

Reparemos nas nuances dessa página de resultados: Nada novo sob o sol californiano da pornografia: vadias safadas que fingem ser santas mas na verdade estão pedindo para ser enrabadas “de todas as formas possíveis e imagináveis”. Mal importa quem enrabou. Inclusive, se ele aparece, é porque é uma pica gigante e dura que merece ser adorada.

 

***

 

Uma pesquisa recente [1] mostrou que o lugar onde as mulheres mais sofrem assédio – mais que na balada e na rua – é no transporte público.

PERCEBA:

A maior parte das mulheres que são obrigadas a usar o transporte público é porque mora longe do destino e não tem dinheiro. (Não tanto a ponto de ter um carro, pegar um taxi, etc.). São essas mulheres que são expostas a esse tipo de assédio. Mulheres serem encoxadas nos metrôs, trens e ônibus – e existir a divulgação desse material como pornografia não são eventos isolados, tampouco são apenas um fetiche sexual inofensivo ou ~da natureza~ masculina.

Começando do começo: assédio é uma palavra de origem MILITAR que significa, entre outras coisas, “estabelecer um cerco com a finalidade de exercer o domínio”, ou “exaurir o inimigo através de repetidos ataques” ou ainda “provocar indignação em alguém” (o que por sua vez tem a ver com atacar a dignidade de alguém). O assédio *sexual* a mulheres cotidianamente nos espaços públicos e privados, aqui em especial no transporte coletivo, é uma violência estratégica, assim como a estratégia militar que dá origem à palavra.

O assédio sexual é uma forma de “colocar a mulher em seu lugar” – de objeto – e lembrá-la que o espaço público é público, mas não pra ela. É uma forma de constranger, de vencer pelo cansaço, de difamar (qualquer semelhança não é mera coincidência) mulheres que ousam invadir um espaço masculino.

(Sim, ainda estamos falando do espaço público.)

 

Quando um homem grita gostosa pra uma mulher, ou quando ele a puxa pelo braço ou – e esse é o campeão dos ônibus – ele esfrega o pinto nela, ele não está saciando um desejo ancestral superior de masculinidade. O que um homem está fazendo quando ataca sexualmente uma mulher é reiterando seu domínio sobre o espaço público e sobre o corpo dela. A conivência com assédios no transporte e outros espaços públicos mostra como é normatizado esse ataque às mulheres, bem como pesquisas comumente demonstram que a opinião pública de fato acredita que mulheres não deveriam ocupar o espaço público. [2]

Quando esse ataque acontece no transporte público ele se aproveita de condições que obviamente transcendem o machismo nosso de cada dia, como a atual atribuição de significado e exploração do transporte urbano. Assim, nem da pra reclamar da encoxada, será que ele tá fazendo isso mesmo? Tá tão cheio que nem da pra ver quem foi, se tá incomodada pega um táxi. O pagamento da tarifa também preocupa mais as companhias que o fator humano, então as mulheres que sejam fodidas antes que as empresas façam algo a respeito.

***

A cultura do estupro e a objetificação das mulheres transformam esse ataque à moral e auto estima feminina em fetiche, transformando o ataque em material erótico através da negação (ou estímulo sexual através) da humilhação feminina. Isso significa que além de promover o ataque, alguém bate punheta com isso depois. Ou seja: exatamente como todos os outros filmes de pornografia. Além disso, “romantiza” – ou pornografiza – a situação de humilhação cotidiana da mulher: o ônibus é um espaço erótico e mulheres, públicas que são, podem ser assediadas, porque “escolheram” estar ali, logo, prestando-se ao assédio, quiçá “pedindo”. Formado o ciclo de justificativas da cultura do estupro, está aberto o caminho para a validação dos ataques a mulheres em um espaço de extrema importância para a participação na vida em sociedade.

E atacar alguém quando em trânsito é covarde até mesmo entre os militares.

[1] http://nao.usem.xyz/7b2j
[2] http://www.brasilpost.com.br/2016/02/07/machismo-no-carnaval_n_9180696.html

Siririque-se*

Uma pesquisa sobre a sexualidade, há poucos anos atrás, afirmou que cerca de 40% das mulheres NUNCA se masturbou. Mais do que lamentar por essas mulheres, o fato de quase metade das mulheres brasileiras não se tocarem ali embaixo aponta pra problemas muito maiores da nossa sociedade, e pra nossa vida.

Desde pequenas somos ensinadas a não gostar de nós mesmas: cabelo tá zuado, corpo tá gordo, rosto tá feio. Não odiamos só a nós mesmas, odiamos também a outras mulheres: aquela vagabunda oferecida, sempre minha inimiga. Inimiga no que? Na disputa por uma ou um parceiro. Aliás, nessa construção da necessidade do príncipe encantado e amor romântico, construiu-se também uma fantasia da necessidade de outra pessoa para o prazer sentimental ou sexual.

Siriricar não é emular um pênis, ou uma mulher se tocar imaginando um homem, ou uma “alternativa viável” ao sexo. Siririca é você, que tem uma buceta, explorar essa cavidade que, a gente descobre isso na primeira infância, é daora demais de mexer. Siriricar é trepar com a pessoa mais próxima de você e que melhor te conhece: você mesma.

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Quer dizer, que melhor te conhece é relativo, porque também tem um número preocupante de mulheres que não conhece a própria vagina, junto do número absurdo de mulheres que nunca gozou, apesar de trepar: uma a cada três minas! A vagina lutou por décadas por reconhecimento: o clitóris é um nome desconhecido por muitas e muitos até hoje e só no século XX que o corpo da mulher começou a ser estudado com a mesma seriedade que o corpo masculino. Freud, o tal pica grossa da psicanálise, disse que mulheres que não gozam com penetração é porque ainda não se desenvolveram sexualmente. Por outro lado, há estudos que defendem que não há orgasmo vaginal, existe só e apenas o clitoriano (e veja que ele mal existia até pouco tempo!).

Pra desenrolar essa história toda, o melhor é mandar Freud se foder (sim migo, ce precisa) e ficar sozinha ca sua vagina. Apesar da sociedade conservadora e cristã que condena as mulheres que se tocaram e tocam, uma mulher que goza a vida não só é mais feliz como desafia todo o patriarcado: conhece seu corpo, se (re)conhece em outras mulheres, não se contenta com sexo zuado só em função do prazer masculino, é dona da própria sexualidade, enfim: Mulher que goza é mulher mais forte e feliz.

Pra começar, se vocês ainda não o fizeram, você pode se apresentar pra sua bacurinha e ela pra você. Você conhece sua vagina, miga?

Quando você abre as pernas e olha pra baixo, o que você vê é o monte de vênus, ou o monte púbico. Ali que você depila – se quiser – e ajeita as calcinha. Apesar de ser parte da genitália, aqui ainda tá longe de onde as coisas acontecem, mas pode rolar uns encaixe de mão e carícias preliminares, pra ir esquentando.Como assim preliminares na minha siririca, você diz? Miga, é sua chance de se conhecer e trepar gostoso, pelo menos tenta.

Descendo um ‘cadinho, a gente chega no mais comumente – se é que se pode dizer isso – espalhado por ai como genitália feminina. As duas dobras de pele que você vê ai são os grande lábios. Ai tem mais sensibilidade, mas as chances de te deixar de perna mole ainda é pequena. Esses lábios servem pra proteger o que tá mais dentro de você, a vagina propriamente dita.

Abrindo esses grandes lábios, e esperamos que a essa altura tu já esteja com o espelhinho na mão, você acha os pequenos lábios. Aqui já tem muito mais terminações nervosas, que é o que faz aqueles arrepios subirem a espinha. Também é nos pequenos lábios que ficam as glândulas de Bartholin, que deixam a gente molhadinha. O nível de lubrificação das mulheres varia muito, e pode até não acontecer em algumas mulheres com pequenas disfunções. Por outro lado, não se assuste de um dia parecer que você tá tão molhada que tá fazendo xixi, ou mesmo esguichar algum líquido. Essa é você ejaculando.

Bem ali em ciminha tem uma protuberância de uns poucos centímetros, uma cabecinha com prepúcio como um mini mini pênis. Aí é onde a mágica acontece. Ai mana, é o teu clitóris. Ao contrário de toda tradição quarta-série, o verdadeiro antônimo de pipi não é pepeka, e sim o tal clitóris. Enquanto o pênis tem cerca de 4 mil terminações nervosas, só a cabecinha do clitóris tem 8 mil. E é exatamente por isso que quando alguém mete a mão lá com tudo a gente quer mais ir pra casa que continuar trepando. Também é por isso que às vezes q gente quer ficar se esfregando ali um tempão. Percebe o prepúcio: ali tanto pode juntar sujeira (tipo os omi que a gente critica) quanto pode ser “subido” pra você achar o ponto exato da mágica. Mais pra dentro é seu canal vaginal, onde entram e saem coisas, e a uretra, onde sai o xixi (não, não é tudo pelo mesmo buraco!). Dentro do canal vaginal, se você colocar o dedinho ai, entrando uns 2, 3 cm na parte de cima da vagina, existe uma área esponjosa, com umas estrias. A quem diga que esse é o ponto G. Também há quem diga que ele na verdade não existe. Na dúvida, você sempre pode explorar a parte de dentro da vagina, com as mãos ou brinquedos limpos, claro, e sentir o que é mais ou menos legal.

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Do mesmo jeito, não é só na PPK que você pode mexer pra chegar, sair e voltar de “lá”. Em geral as coxas, ânus, pescoço e peitos das mulheres também são sensíveis e eróticos, mas o melhor jeito de descobrir onde te gusta mais é mexendo!

Aliás, como você vai se tocar é uma opção pessoal. Você pode usar os dedos ou algum brinquedo de sex shop (pepinos, cenouras e shampoos não são exatamente saudáveis pra isso). Sempre, sempre sempre lave as mãos e qualquer coisa que vá enfiar em si mesma, o risco de infecções deve sempre ser considerado. Existem também algumas técnicas mais “comprovadas” como o uso do chuveirinho, onde você aponta o jato pro clitóris e segue felizona a vida moiada. No entanto, se você vai apertar mais ou menos, ir mais ou menos fundo, fazer em círculos ou dar uns tapinhas (tenta!) é uma opção tua e você só descobre o que curte fazendo, e inventado novos jeitos de fazer.

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Links para se aprofundar:

USP: Diversas mulheres contam porque, muitas vezes, não conseguem expressar seus desejos sexuais para os parceiros – e até para si mesmas

CBN Salvador: Esclarecendo segredos e mitos sobre a masturbação feminina

Doc feminista sobre masturbação feminina

Happy Play Time: Joguinho educativo

Ilustração feita com exclusividade por Thais Erre para a Ovelha.

*Texto originalmente escrito para ovelhamag.com

Trabalhadoras do sexo: um commodity estigmatizado

É necessário ter uma visão crítica em relação à indústria do sexo [deixando claro que a Siririca não é anti-prostituição] pois, sendo um mercado servido majoritariamente por mulheres, está muito mais suscetível às opressões sexistas e patriarcais. Essa situação piorou devido ao capitalismo que, seguindo a lógica neoliberal, tabela preço em tudo em busca do lucro – lucro proveniente da exploração de carne barata. Dentro do sistema capitalista tira-se vantagem econômica dos desprivilegiados, apoiado por estruturas homo/transfóbicas e sexistas, estigmatizando pessoas também de acordo ao gênero, classe, raça, heranças migratórias, etc. E são essas as circunstâncias que agravam a situação das trabalhadoras do sexo asiáticas.

Durante a história na Ásia, mulheres eram tradicionalmente tratadas como forma de escambo e concubinagem era algo bem comum, mas foi no século 19 que elas receberam valor de mercado na economia. A primeira transação de mulheres em grande escala envolveu a venda de garotas chinesas traficadas para bordeis na Malásia, Singapura e Tailândia, a fim de prover serviços sexuais para trabalhadores chineses. [1] O continente asiático era rural, feudal e pobre, e foi devido à urbanização e industrialização durante o período colonial e a Segunda Guerra Mundial que deu-se início à indústria de massa do sexo.

Outra importante razão para este fortalecimento foi a expansão da escravidão sexual militar. Houve um aumento considerável da demanda por serviços sexuais com a chegada das tropas norte americanas durante a Guerra na Coreia e, especialmente, a Guerra no Vietnã. Durante os anos 60 e 70, Tailândia e Filipinas também receberam grande número de militares norte americanos.

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tweet da Rihanna resultou na apreensão do proprietário do bar em Phuket, Tailândia

Hoje a indústria do sexo está estabelecida tanto para os locais quanto para turistas, e como em qualquer outra indústria de massa, há exploração envolvida. Existe uma grande porcentagem de meninas sequestradas de vilarejos remotos ou tribos, sendo enganadas por falsas promessas de trabalho fora de seu país. Algumas também foram vendidas por seus maridos, ou pelos seus próprios pais para prover alimentação aos irmãos, ou foram negociadas após a descoberta de que a menina não é mais virgem. Por serem uma das mulheres mais vulneráveis disponíveis, estão suscetíveis a experienciar situações degradantes de trabalho, como escravidão por dívidas (transporte usado para chegar ao bordel, alimentação, etc), atender muitos clientes por dia, exposição à doenças sexualmente transmissíveis, e moradia precária – algumas vivem no mesmo quarto em que recebem os clientes. Elas também são constantemente ameaçadas pela polícia e x donx do bordel, muitas vezes sofrendo violência física e extorsão. Como muitas trabalhadoras são imigrantes ilegais, sofrem ameaças de deportação – o que acarretaria na perda do trabalho (consequentemente, perda da renda enviada à família) ou até mesmo prisão. Algumas garotas têm vergonha de retornar à casa temendo a reação de sua comunidade.

Não é novidade que grande parte da população asiática trabalha dentro do sistema moderno de escravidão em fábricas, então por que seria diferente na indústria de massa do sexo? O sul da Ásia, junto com oeste europeu e América Latina, é um dos grandes provedores de mulheres para a indústria do sexo mundial. E não por coincidência, todas essas regiões são economicamente pobres e exportadoras de carne barata para qualquer outro setor trabalhista dos EUA e leste europeu. Há também subdivisões dentro dos países asiáticos de acordo com seu desenvolvimento econômico. Japão é o maior importador, Nepal, Bangladesh e Vietnã são os maiores exportadores de mulheres e não recebem migração trabalhista, pois poucxs encontram-se em uma situação tão desesperadora a ponto de buscar trabalho em um dos países mais pobres do mundo. No Nepal, por exemplo, um terço da população trabalha fora do país, e as trabalhadoras do sexo lá são garotas locais.

Exploração de mulheres é mais uma opção lucrativa para grandes empresários, organizações criminosas e políticos, e um dos resultados das grandes mudanças pelos quais a sociedade asiática tem passado, como o aumento das discrepâncias econômicas, mais pessoas em movimento dentro e fora de seu país de origem, e a introdução de novos valores, como o consumismo famigerado. Uma pesquisa dos anos 90 apontou que 60% das famílias tailandesas enviaram suas filhas à prostituição não devido a extrema pobreza, mas porque desejavam adquirir bens de consumo como televisão e vídeos [2].

A exploração de mulheres dentro da indústria do sexo existe precisamente porque elas PODEM ser exploradas. Primeiramente, são mulheres. Originárias de países pobres, de raças e etnias sub valorizadas, trabalhando em uma profissão estigmatizada. E o capitalismo tira vantagem de toda e qualquer vulnerabilidade em nome do lucro, somando suas próprias características aos tradicionais aspectos de opressão de gênero, repaginando explorações habituais. Para manter a norma social o capitalismo mantém mecanismos que segregam as trabalhadoras do sexo. É óbvio que elas não serão empoderadas de forma alguma: dominá-las é muito mais fácil desta maneira.

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Prostituição: Capitalismo no seu mais fino

[1] Sex Slaves – The traffiking of women in Asia – Louise Brown (Londres, 2000)

[2] Ecumenical Council on Third World Tourism, Caught in Modern Slavery: Toursm and Child Prostitution in Asia (Bangkok, 1992)