Arquivo mensal: Fevereiro 2016

Pornografia do cotidiano – assédio como entretenimento

Mulher encoxada ônibus

Antes de escrever um texto, sempre fazemos o teste do Google [teste autoexplicativo].

Só pra ver o que qualquer pessoa com acesso à internet – como umx adolescente que tente entender do que algo se trata – encontraria em uma busca básica.

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(Clique na imagem para ver os absurdos)

Reparemos nas nuances dessa página de resultados: Nada novo sob o sol californiano da pornografia: vadias safadas que fingem ser santas mas na verdade estão pedindo para ser enrabadas “de todas as formas possíveis e imagináveis”. Mal importa quem enrabou. Inclusive, se ele aparece, é porque é uma pica gigante e dura que merece ser adorada.

 

***

 

Uma pesquisa recente [1] mostrou que o lugar onde as mulheres mais sofrem assédio – mais que na balada e na rua – é no transporte público.

PERCEBA:

A maior parte das mulheres que são obrigadas a usar o transporte público é porque mora longe do destino e não tem dinheiro. (Não tanto a ponto de ter um carro, pegar um taxi, etc.). São essas mulheres que são expostas a esse tipo de assédio. Mulheres serem encoxadas nos metrôs, trens e ônibus – e existir a divulgação desse material como pornografia não são eventos isolados, tampouco são apenas um fetiche sexual inofensivo ou ~da natureza~ masculina.

Começando do começo: assédio é uma palavra de origem MILITAR que significa, entre outras coisas, “estabelecer um cerco com a finalidade de exercer o domínio”, ou “exaurir o inimigo através de repetidos ataques” ou ainda “provocar indignação em alguém” (o que por sua vez tem a ver com atacar a dignidade de alguém). O assédio *sexual* a mulheres cotidianamente nos espaços públicos e privados, aqui em especial no transporte coletivo, é uma violência estratégica, assim como a estratégia militar que dá origem à palavra.

O assédio sexual é uma forma de “colocar a mulher em seu lugar” – de objeto – e lembrá-la que o espaço público é público, mas não pra ela. É uma forma de constranger, de vencer pelo cansaço, de difamar (qualquer semelhança não é mera coincidência) mulheres que ousam invadir um espaço masculino.

(Sim, ainda estamos falando do espaço público.)

 

Quando um homem grita gostosa pra uma mulher, ou quando ele a puxa pelo braço ou – e esse é o campeão dos ônibus – ele esfrega o pinto nela, ele não está saciando um desejo ancestral superior de masculinidade. O que um homem está fazendo quando ataca sexualmente uma mulher é reiterando seu domínio sobre o espaço público e sobre o corpo dela. A conivência com assédios no transporte e outros espaços públicos mostra como é normatizado esse ataque às mulheres, bem como pesquisas comumente demonstram que a opinião pública de fato acredita que mulheres não deveriam ocupar o espaço público. [2]

Quando esse ataque acontece no transporte público ele se aproveita de condições que obviamente transcendem o machismo nosso de cada dia, como a atual atribuição de significado e exploração do transporte urbano. Assim, nem da pra reclamar da encoxada, será que ele tá fazendo isso mesmo? Tá tão cheio que nem da pra ver quem foi, se tá incomodada pega um táxi. O pagamento da tarifa também preocupa mais as companhias que o fator humano, então as mulheres que sejam fodidas antes que as empresas façam algo a respeito.

***

A cultura do estupro e a objetificação das mulheres transformam esse ataque à moral e auto estima feminina em fetiche, transformando o ataque em material erótico através da negação (ou estímulo sexual através) da humilhação feminina. Isso significa que além de promover o ataque, alguém bate punheta com isso depois. Ou seja: exatamente como todos os outros filmes de pornografia. Além disso, “romantiza” – ou pornografiza – a situação de humilhação cotidiana da mulher: o ônibus é um espaço erótico e mulheres, públicas que são, podem ser assediadas, porque “escolheram” estar ali, logo, prestando-se ao assédio, quiçá “pedindo”. Formado o ciclo de justificativas da cultura do estupro, está aberto o caminho para a validação dos ataques a mulheres em um espaço de extrema importância para a participação na vida em sociedade.

E atacar alguém quando em trânsito é covarde até mesmo entre os militares.

[1] http://nao.usem.xyz/7b2j
[2] http://www.brasilpost.com.br/2016/02/07/machismo-no-carnaval_n_9180696.html

Siririque-se*

Uma pesquisa sobre a sexualidade, há poucos anos atrás, afirmou que cerca de 40% das mulheres NUNCA se masturbou. Mais do que lamentar por essas mulheres, o fato de quase metade das mulheres brasileiras não se tocarem ali embaixo aponta pra problemas muito maiores da nossa sociedade, e pra nossa vida.

Desde pequenas somos ensinadas a não gostar de nós mesmas: cabelo tá zuado, corpo tá gordo, rosto tá feio. Não odiamos só a nós mesmas, odiamos também a outras mulheres: aquela vagabunda oferecida, sempre minha inimiga. Inimiga no que? Na disputa por uma ou um parceiro. Aliás, nessa construção da necessidade do príncipe encantado e amor romântico, construiu-se também uma fantasia da necessidade de outra pessoa para o prazer sentimental ou sexual.

Siriricar não é emular um pênis, ou uma mulher se tocar imaginando um homem, ou uma “alternativa viável” ao sexo. Siririca é você, que tem uma buceta, explorar essa cavidade que, a gente descobre isso na primeira infância, é daora demais de mexer. Siriricar é trepar com a pessoa mais próxima de você e que melhor te conhece: você mesma.

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Quer dizer, que melhor te conhece é relativo, porque também tem um número preocupante de mulheres que não conhece a própria vagina, junto do número absurdo de mulheres que nunca gozou, apesar de trepar: uma a cada três minas! A vagina lutou por décadas por reconhecimento: o clitóris é um nome desconhecido por muitas e muitos até hoje e só no século XX que o corpo da mulher começou a ser estudado com a mesma seriedade que o corpo masculino. Freud, o tal pica grossa da psicanálise, disse que mulheres que não gozam com penetração é porque ainda não se desenvolveram sexualmente. Por outro lado, há estudos que defendem que não há orgasmo vaginal, existe só e apenas o clitoriano (e veja que ele mal existia até pouco tempo!).

Pra desenrolar essa história toda, o melhor é mandar Freud se foder (sim migo, ce precisa) e ficar sozinha ca sua vagina. Apesar da sociedade conservadora e cristã que condena as mulheres que se tocaram e tocam, uma mulher que goza a vida não só é mais feliz como desafia todo o patriarcado: conhece seu corpo, se (re)conhece em outras mulheres, não se contenta com sexo zuado só em função do prazer masculino, é dona da própria sexualidade, enfim: Mulher que goza é mulher mais forte e feliz.

Pra começar, se vocês ainda não o fizeram, você pode se apresentar pra sua bacurinha e ela pra você. Você conhece sua vagina, miga?

Quando você abre as pernas e olha pra baixo, o que você vê é o monte de vênus, ou o monte púbico. Ali que você depila – se quiser – e ajeita as calcinha. Apesar de ser parte da genitália, aqui ainda tá longe de onde as coisas acontecem, mas pode rolar uns encaixe de mão e carícias preliminares, pra ir esquentando.Como assim preliminares na minha siririca, você diz? Miga, é sua chance de se conhecer e trepar gostoso, pelo menos tenta.

Descendo um ‘cadinho, a gente chega no mais comumente – se é que se pode dizer isso – espalhado por ai como genitália feminina. As duas dobras de pele que você vê ai são os grande lábios. Ai tem mais sensibilidade, mas as chances de te deixar de perna mole ainda é pequena. Esses lábios servem pra proteger o que tá mais dentro de você, a vagina propriamente dita.

Abrindo esses grandes lábios, e esperamos que a essa altura tu já esteja com o espelhinho na mão, você acha os pequenos lábios. Aqui já tem muito mais terminações nervosas, que é o que faz aqueles arrepios subirem a espinha. Também é nos pequenos lábios que ficam as glândulas de Bartholin, que deixam a gente molhadinha. O nível de lubrificação das mulheres varia muito, e pode até não acontecer em algumas mulheres com pequenas disfunções. Por outro lado, não se assuste de um dia parecer que você tá tão molhada que tá fazendo xixi, ou mesmo esguichar algum líquido. Essa é você ejaculando.

Bem ali em ciminha tem uma protuberância de uns poucos centímetros, uma cabecinha com prepúcio como um mini mini pênis. Aí é onde a mágica acontece. Ai mana, é o teu clitóris. Ao contrário de toda tradição quarta-série, o verdadeiro antônimo de pipi não é pepeka, e sim o tal clitóris. Enquanto o pênis tem cerca de 4 mil terminações nervosas, só a cabecinha do clitóris tem 8 mil. E é exatamente por isso que quando alguém mete a mão lá com tudo a gente quer mais ir pra casa que continuar trepando. Também é por isso que às vezes q gente quer ficar se esfregando ali um tempão. Percebe o prepúcio: ali tanto pode juntar sujeira (tipo os omi que a gente critica) quanto pode ser “subido” pra você achar o ponto exato da mágica. Mais pra dentro é seu canal vaginal, onde entram e saem coisas, e a uretra, onde sai o xixi (não, não é tudo pelo mesmo buraco!). Dentro do canal vaginal, se você colocar o dedinho ai, entrando uns 2, 3 cm na parte de cima da vagina, existe uma área esponjosa, com umas estrias. A quem diga que esse é o ponto G. Também há quem diga que ele na verdade não existe. Na dúvida, você sempre pode explorar a parte de dentro da vagina, com as mãos ou brinquedos limpos, claro, e sentir o que é mais ou menos legal.

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Do mesmo jeito, não é só na PPK que você pode mexer pra chegar, sair e voltar de “lá”. Em geral as coxas, ânus, pescoço e peitos das mulheres também são sensíveis e eróticos, mas o melhor jeito de descobrir onde te gusta mais é mexendo!

Aliás, como você vai se tocar é uma opção pessoal. Você pode usar os dedos ou algum brinquedo de sex shop (pepinos, cenouras e shampoos não são exatamente saudáveis pra isso). Sempre, sempre sempre lave as mãos e qualquer coisa que vá enfiar em si mesma, o risco de infecções deve sempre ser considerado. Existem também algumas técnicas mais “comprovadas” como o uso do chuveirinho, onde você aponta o jato pro clitóris e segue felizona a vida moiada. No entanto, se você vai apertar mais ou menos, ir mais ou menos fundo, fazer em círculos ou dar uns tapinhas (tenta!) é uma opção tua e você só descobre o que curte fazendo, e inventado novos jeitos de fazer.

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Links para se aprofundar:

USP: Diversas mulheres contam porque, muitas vezes, não conseguem expressar seus desejos sexuais para os parceiros – e até para si mesmas

CBN Salvador: Esclarecendo segredos e mitos sobre a masturbação feminina

Doc feminista sobre masturbação feminina

Happy Play Time: Joguinho educativo

Ilustração feita com exclusividade por Thais Erre para a Ovelha.

*Texto originalmente escrito para ovelhamag.com