devassidão coisa e tal_bundaybreja

Se tem uma breja que eu tomei na Baea foi Heineken. Quase tanto, ou talvez realmente tanto quanto, teve a Devassa, que é a lager mainstream da mesma fábrica. Em terras soteropolitanas, a garrafa custa de 8 biroliros pra menos, e apesar de ser a minha top 2 provavelmente é a top 1 de lá. A marca fez um ~reposicionamento~ há alguns anos atrás e descontinuou sua versão “bem loura”, colocando no mercado essa que agora tem se vendido como “puro malte tropical”: uma receita brazo-tropical de puro malte menos amarga, mais leve etc. As praias de Salvador abraçaram, quem sou eu pra dizer o contrário.

Eu também curti muito essa foto, acho que ela tem uma vibe campanha de verão daqueles poster que fica em boteco copo sujo, cês num acha?

A Devassa inclusive já rendeu vários pôsteres e propagandas, digamos, importantes para a cultura geral de “sexualidade de tv”. Cês lembram de uma das primeiras propagandas, que já começou censurada, há dez anos atrás, em que a Paris Hilton era voyeurizada por Copacabana? Nessa época a cerveja era outra, esses, tempos de “bem loura”. Inclusive, nesses mesmos tempos eles pintaram o cabelo e botaram pra rebolar uma nada-sexy Sandy Junior. Pela propaganda valeu o buxixo mas Sandy, que não bebe, não me convence com sua raba.

E tudo bem.

Já faz um tempo que a propaganda de cerveja trata mais de *qual* comprar do que *porque comprar* cerveja. Isso tem a ver com a sociedade de consumo e “compensação” do trabalho [numa sociedade que é do trabalho mas precisa criar formas de compensar o trabalho]. Nessa luta desesperada, rs, por consumidores o apelo é feito como é feito e salve-se-quem-puder. Até muito recentemente, ganhava na campanha de cerveja quem colocasse a maior gostosa com roupas mais provocantes em uma posição mais sexualizada. Eu mesma já falei mal de Devassa em post anterior desse blog.

Vira-e-mexe a propaganda de cerveja é habitada por uma ou um time de gostosas que, felizmente cada dia com mais personalidade, sugerem aspectos sexuais. Desde o auge da cultura de massa até hoje de manhã as mulheres aparecem a full em propagandas de cerveja, mas como satisfação de uma necessidade ou interesse do verdadeiro consumidor, o homem. Nesse sentido, objetos do desejo deles etc.

A sexualidade apresentada nas propagandas de cerveja talequal na pornografia [Naomi Wolf y outres defendem, por exemplo, que toda propaganda tem sua pornografia baseada na exploração da beleza feminina] é unívoca de submissão feminina. Assim, esses ideais reproduzidos todo dia o tempo todo não se restringem *apenas* ao corpo, mas também à performance sexual esperada dos sexos. Quando a virginal [e então loira] Sandy fez o constrangedor comercial da Devassa, ela falava “afinal, toda mulher tem seu lado devassa”.

Nesse sentido, contrário ao discurso liberal da representatividade, o que existe é mais uma profusão que uma ausência, e é justamente essa profusão que atua na construção da sexualidade coletiva comum, uma sexualidade de tv, qual seja: a educação pornográfica em que mulheres são seres passivos sexuais e os homens predadores movidos pelo desejo constante. Nessa relação de consumo, as mulheres são apenas seus atributos sexuais, por exemplo as louras como ideal de beleza, as morenas/negras como animais mais sexualizados. As mulheres são sua performance de gênero, não um grupo heterogêneo dotado de diversidade etc.

A fixação do homem como consumidor – tendência que a representatividade vem lentamente alterando – firma a cerveja como sinônimo de espaços coletivos/públicos e de gozo como espaços masculinos. Apesar da gradual inserção de mulheres como consumidoras, a maioria absoluta associa “o direito de tomar cerveja” ao “mérito” feminino e à “igualdade” entre os gêneros. Ou seja, valores de liberdade dentro do capitalismo fofinho.

Não acredito em hackear o sistema mas, como resistência de trincheira, a Siririca (por isso o nome) nasceu anos atrás para causar ruído inserindo conteúdo “subversivo” em meios de mensagem nocivos. Vamos ver onde o caminho leva.