Trabalhadoras do sexo: um commodity estigmatizado

É necessário ter uma visão crítica em relação à indústria do sexo [deixando claro que a Siririca não é anti-prostituição] pois, sendo um mercado servido majoritariamente por mulheres, está muito mais suscetível às opressões sexistas e patriarcais. Essa situação piorou devido ao capitalismo que, seguindo a lógica neoliberal, tabela preço em tudo em busca do lucro – lucro proveniente da exploração de carne barata. Dentro do sistema capitalista tira-se vantagem econômica dos desprivilegiados, apoiado por estruturas homo/transfóbicas e sexistas, estigmatizando pessoas também de acordo ao gênero, classe, raça, heranças migratórias, etc. E são essas as circunstâncias que agravam a situação das trabalhadoras do sexo asiáticas.

Durante a história na Ásia, mulheres eram tradicionalmente tratadas como forma de escambo e concubinagem era algo bem comum, mas foi no século 19 que elas receberam valor de mercado na economia. A primeira transação de mulheres em grande escala envolveu a venda de garotas chinesas traficadas para bordeis na Malásia, Singapura e Tailândia, a fim de prover serviços sexuais para trabalhadores chineses. [1] O continente asiático era rural, feudal e pobre, e foi devido à urbanização e industrialização durante o período colonial e a Segunda Guerra Mundial que deu-se início à indústria de massa do sexo.

Outra importante razão para este fortalecimento foi a expansão da escravidão sexual militar. Houve um aumento considerável da demanda por serviços sexuais com a chegada das tropas norte americanas durante a Guerra na Coreia e, especialmente, a Guerra no Vietnã. Durante os anos 60 e 70, Tailândia e Filipinas também receberam grande número de militares norte americanos.

tweet rihanna

tweet da Rihanna resultou na apreensão do proprietário do bar em Phuket, Tailândia

Hoje a indústria do sexo está estabelecida tanto para os locais quanto para turistas, e como em qualquer outra indústria de massa, há exploração envolvida. Existe uma grande porcentagem de meninas sequestradas de vilarejos remotos ou tribos, sendo enganadas por falsas promessas de trabalho fora de seu país. Algumas também foram vendidas por seus maridos, ou pelos seus próprios pais para prover alimentação aos irmãos, ou foram negociadas após a descoberta de que a menina não é mais virgem. Por serem uma das mulheres mais vulneráveis disponíveis, estão suscetíveis a experienciar situações degradantes de trabalho, como escravidão por dívidas (transporte usado para chegar ao bordel, alimentação, etc), atender muitos clientes por dia, exposição à doenças sexualmente transmissíveis, e moradia precária – algumas vivem no mesmo quarto em que recebem os clientes. Elas também são constantemente ameaçadas pela polícia e x donx do bordel, muitas vezes sofrendo violência física e extorsão. Como muitas trabalhadoras são imigrantes ilegais, sofrem ameaças de deportação – o que acarretaria na perda do trabalho (consequentemente, perda da renda enviada à família) ou até mesmo prisão. Algumas garotas têm vergonha de retornar à casa temendo a reação de sua comunidade.

Não é novidade que grande parte da população asiática trabalha dentro do sistema moderno de escravidão em fábricas, então por que seria diferente na indústria de massa do sexo? O sul da Ásia, junto com oeste europeu e América Latina, é um dos grandes provedores de mulheres para a indústria do sexo mundial. E não por coincidência, todas essas regiões são economicamente pobres e exportadoras de carne barata para qualquer outro setor trabalhista dos EUA e leste europeu. Há também subdivisões dentro dos países asiáticos de acordo com seu desenvolvimento econômico. Japão é o maior importador, Nepal, Bangladesh e Vietnã são os maiores exportadores de mulheres e não recebem migração trabalhista, pois poucxs encontram-se em uma situação tão desesperadora a ponto de buscar trabalho em um dos países mais pobres do mundo. No Nepal, por exemplo, um terço da população trabalha fora do país, e as trabalhadoras do sexo lá são garotas locais.

Exploração de mulheres é mais uma opção lucrativa para grandes empresários, organizações criminosas e políticos, e um dos resultados das grandes mudanças pelos quais a sociedade asiática tem passado, como o aumento das discrepâncias econômicas, mais pessoas em movimento dentro e fora de seu país de origem, e a introdução de novos valores, como o consumismo famigerado. Uma pesquisa dos anos 90 apontou que 60% das famílias tailandesas enviaram suas filhas à prostituição não devido a extrema pobreza, mas porque desejavam adquirir bens de consumo como televisão e vídeos [2].

A exploração de mulheres dentro da indústria do sexo existe precisamente porque elas PODEM ser exploradas. Primeiramente, são mulheres. Originárias de países pobres, de raças e etnias sub valorizadas, trabalhando em uma profissão estigmatizada. E o capitalismo tira vantagem de toda e qualquer vulnerabilidade em nome do lucro, somando suas próprias características aos tradicionais aspectos de opressão de gênero, repaginando explorações habituais. Para manter a norma social o capitalismo mantém mecanismos que segregam as trabalhadoras do sexo. É óbvio que elas não serão empoderadas de forma alguma: dominá-las é muito mais fácil desta maneira.

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Prostituição: Capitalismo no seu mais fino

[1] Sex Slaves – The traffiking of women in Asia – Louise Brown (Londres, 2000)

[2] Ecumenical Council on Third World Tourism, Caught in Modern Slavery: Toursm and Child Prostitution in Asia (Bangkok, 1992)